quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ausência



(...) "Após a morte dele ninguém tocara nas moedas... Estavam espalhadas sob a mesa da sala. Réis, cruzeiros, cruzados, todas sem valor nenhum. Já perdi as contas de quantas vezes passei por aquele cômodo e não tive coragem de movê-las. Eu precisava tirá-las de lá, me lembravam da presença dele. Deve ter sido exatamente por isso que eu não havia as guardado ainda. Era como se por elas estarem ali ele também estivesse.
Queria colocá-las com as abotoaduras, o suspensório, o chapéu... Estavam todos em uma caixinha de madeira que separei para ele, mas eu não conseguia. Seria como admitir que ele se fora, que me abandonara. A saudade pesava em meu peito e o prateado sob a mesa agredia minha consciência. E eu sabia que o prendia aqui, que precisava deixá-lo ir, que me impedi de viver por impedi-lo de morrer. Deveria tê-las guardado, afinal, ele as deixara para mim... Mas desde a sua morte ninguém tocara nas moedas..."

3 comentários:

  1. Acho que fazemos isso em muitos outros momentos da vida também, as vezes, sem perceber e mesmo assim nos recusamos em aceitar a partida, mesmo que ela já tenha acontecido

    ResponderExcluir