quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mansão mal-assombrada

Faz tanto tempo desde que não olho pra dentro de mim... Me tranquei pra fora das minhas portas, fechei as janelas e sai de casa. Esqueci da chave reserva que geralmente deixava embaixo do tapetinho que dizia “Boas Vindas!” e parti.
A gente nunca sente que vai abandonar algo quando realmente abandona. Aos poucos nos desligamos, até a hora que já não reconhecemos onde estamos o que estamos fazendo ou quem somos. A realidade vira tudo aquilo que não vemos, nos recusamos a ver qualquer coisa, vendando nossos olhos com mentiras.
Já perdi as contas das vezes que me vi sendo superficial, outra pessoa que não eu.
Queria poder ter respostas para me explicar, e talvez se possível, entender as minhas explicações.
Do que adianta ter mil e um argumentos e papas na língua, se as únicas pessoas que engolem suas mentiras são os outros?
A verdade é que ninguém imagina como é estar na pele do outro, ninguém imagina. A vida é uma coisa tão única, tão egoísta, que o ser humano está fadado a seguir sem esperança de consentimento, sem esperança e sem realidade.
Seguimos sempre como páginas em branco, aguardando as palavras a serem escritas, sem nos importarmos em fazer o nosso melhor para adicionar na coletânea da vida um Best-seller.
A única graça é que todos os livros tem o mesmo gênero, por incrível que pareça. Comédias trágicas.
As portas sempre trancadas – não só as minhas – as janelas com poeira, chaves continuam em baixo dos tapetes e o “Boas Vindas!” agora não passa de um “Mantenha distancia!”
Todos tem a estranha mania de dizer que se sentem sós e querem companhia, sendo que todas as vezes que alguém chega perto, as afastamos por puro medo.
Aplaudo efusivamente aqueles que vivem sem medo de viver, ou melhor, aqueles que vivem com a coragem pra seguir em frente. Porque realmente não sei da onde as pessoas tiram forças para continuar. São tantas amarguras que já estou desgostosa com tudo o que me cerca! É tão deprimente ver que tudo cai na rotina e que nem mesmo um sorriso tem o poder de fazer um quebrado de segundo virar um momento um pouco mais feliz.
A dureza das pessoas aumentou pelo simples fato de que ninguém se importa mais. O interesse juntamente ao tempo passou, deixando a casa para os cupins, as janelas quebradas, a porta arrombada e quando olhamos, tudo que havia dentro já foi sequestrado sem direito a pedido de resgate.
Chega a ser engraçado o dispor de tantos ideais e tantos pensamentos diferentes, sendo que acabamos compartilhando um único medo, justificando os meios pelos objetivos sem nem ao menos saber quais são. É o mesmo medo, o medo da falha. Pois no fundo do coração sabemos... O nosso melhor nunca vai ser – e nunca realmente é – o melhor ou ao menos suficiente, seja pra mim ou pra você.
Então marchamos para uma eterna vida de conformismo e acomodação, num mundo imperfeito cheio de pessoas imperfeitas. Onde o que procuramos são os poucos im-perfeitos seres que aceitarão os nossos defeitos. Onde tudo o que importa é o melhor de cada um, não exigindo que seja o necessário, só o melhor de cada um. Aquele melhor que projetamos em poucos, mas que na realidade ninguém possui.
Tudo só para ser abstraído da realidade e não ter que abstraí-la. Porque acaba saindo muito mais caro do que não prestar atenção.
E é por isso que repito em voz baixa todos os dias:
“Maldito pensamento, divina ignorância.”

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